quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Augusto de Campos: Poemos


Diálogo a Dois

“A Angústia, Augusto, esse leão de areia”Décio Pignatari


A Angústia, Augusto, esse leão de areia
Que se abebera em tuas mãos de tuas mãos
E que desdenha a fronte que lhe ofertas
(Em tuas mãos de tuas mãos por tuas mãos)
E há de chegar paciente ao nervo dos teus olhos,
É o Morto que se fecha em tua pele?
O Expulso do teu corpo no teu corpo?
A Pedra que se rompe dos teus pulsos?
A Areia areia apenas mais o vento?

A Angústia, Pignatari, Oleiro de Ouro,
Esse leão de areia digo este leão
(Ah! O longo olhar sereno em que nos empenhamos,
Que é como se eu me estrangulasse com os olhos)
De sangue:
Eu mesmo, além do espelho.
Esperança oh magna

Esperança oh magna
cadela
regina com fome
que abraças o esqueleto no corpo
de um espantoso noivo
taciturno e apoiado em seu anel.
Oh aranha esperança
aranha esperança ar
anha esperança
treva as coxas grand’abertas
e uma pequena relva
— e ali deixar nossos pêlos,
Magros joelhos.
Descansa o ventre esperança com um peixe
insinuoso entre as pernas desenrola
a sempiterna seda sobre a seda
de uma coxa que cresce (eu poro eu pele)
espiral esperança granda granda.

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