sábado, 5 de novembro de 2011






Literando Dalton Trevisan 



Livro Trailer - O Vampiro de Curitiba

Dalton Jérson Trevisan: Quetões


Questões
1. (UEL)
 TEXTO PARA QUESTÕES DE 1 A 3
Se não havia ninguém na casa, além dele e Maria... Intrigado, experimentou o trinco: no quarto cor-de-rosa penteadeira oval.
Uma, duas, três bonecas de luxo. E, da cama, sentadinha, sorria a gorda senhora.
- Entre, seu moço.
Dois passos no reino das bonecas: ar adocicado de incenso, pó-de-arroz, esmalte de unha.
– É parenta da Maria?
– Não adivinha? – E sorria, faceira, lábio muito pintado. – É minha filha.
– Tão jovem... – Bem a avozinha do Chapeuzinho Vermelho. – Parece irmã!
No canto do espelho alinhavam-se os galãs de cinema.
– Muito gentil. Você quem é?
– Amiguinho dela.
A gorda afastou o abajur, aninhada na sombra misteriosa.
Esqueceu no joelho a revista, em gesto pudico fechou o quimono encarnado.
– Aceita um bombom? – e retirou do lençol uma caixa dourada. – Como escondida...
Lambeu o dedinho curto, a tinir o bracelete:
– Segredo de nós dois!
– De mim ela não vai saber – e beliscava o cacho loiro da boneca.
– O moço não quer sentar?
Ao vê-lo correr o olho, encolheu-se no canto:
– Lugar para mais um.
Respeitoso na beira da cama, apanhou a revista de fotonovela.
– Os dois brigaram?
– Sabe como ela é.
Aborrecido virava as páginas: dedo peganhento de chocolate o olhinho gorducho.
– É recheado de licor! – e oferecia na ponta da língua um bocado meio derretido.
Era a avozinha ou, no quimono fulgurante de seda, o próprio lobo?
Largou a revista ao pé da cama – voltar à Maria e pedir mil perdões? Na mesinha o retrato em moldura prateada.
– Sou eu.
A menina com a cesta de amora.
– Já fui bonita.
– Ainda é – retrucou alegre –, ainda é.
Muito sério ao dar na sombra com o olho arregalado de sapo debaixo da pedra.
– Seu diabinho! – agarrou-lhe o polegar na mão lambuzada e, antes de soltá-lo, um apertão e mais outro.
Nada de avozinha, é mesmo o lobo. Ao mexer a cabeça, girava a parede e, enxugando o suor da testa, voltou-se para ela:
– Tem alguma bebida?
Exibiu os dentes alvares de pouco uso:
– Sou melhor que bebida.
Entre divertido e assustado, descansou o cotovelo na cama: propunha-se o lobo devorá-lo? Vislumbrou a cara na sombra: balofa, sem sobrancelha, o cabelo ralo. Por cima do quimono apalpou-lhe o peito: apesar de velha, o seio durinho.
– Quer minha perdição? – Meu Deus, a voz dengosa de menina. – Ai, diabinho peralta!
Brincalhona, correu a unha pela nuca. De repente o gemido rouco:
– Feche a porta.

(TREVISAN, Dalton. Chapeuzinho Vermelho. In: O Vampiro de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 72-74.)

1. (UEL)
Leia as correlações estabelecidas entre as frases do conto e suas interpretações.

I. "Bem a avozinha do Chapeuzinho Vermelho". Esta frase corresponde à impressão inicial do rapaz sobre a mãe da namorada quando ainda desconhece as suas artimanhas.
II. "Era a avozinha ou, no quimono fulgurante de seda, o próprio lobo?". Esta frase corresponde a um momento em que o rapaz ratifica suas suspeitas anteriores quanto à senhora e se sente emocionalmente fragilizado diante dela.
III. "Nada de avozinha, é mesmo o lobo." Esta frase corresponde a uma etapa em que o rapaz sai de seu torpor, ressaltando que, a partir dali, ele estaria recuperando o controle da situação.
IV. "Entre divertido e assustado, descansou o cotovelo na cama: propunha-se o lobo devorá-lo?". Esta frase corresponde à convicção de que a senhora não era uma vítima e ao espírito de análise demonstrado pelo personagem do rapaz.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
Resposta: B

2. (UEL) É correto afirmar que esse segmento do conto corresponde:

a) A um encontro marcado entre os dois personagens que ainda não se conheciam até aquela ocasião.
b) Ao momento em que o rapaz, que havia brigado com sua namorada, descobre a presença da mãe na casa, mas depois retorna aos braços da amada, com asco daquela mulher.
c) À descoberta da sexualidade pelo menino, que, após uma briga em seu namoro inocente com a filha daquela senhora, conhece a mãe dela e é por ela seduzido.
d) A uma passagem constrangedora em que o rapaz sente um misto de atração e repulsa, mas se entrega à tentação sem remorso ou grandes conflitos por trair a namorada.
e) A um duelo entre os personagens, do qual o rapaz sai vencedor, pois ele tortura a senhora, fazendo com que ela se apaixone por ele, abandonando-a em seguida, ignorando suas súplicas.
Resposta: D

3. (UEL) Com base no conto "Chapeuzinho Vermelho", do qual este trecho foi extraído, e nos demais contos de O vampiro de Curitiba, é correto afirmar:

a) Como nos demais contos do livro, o personagem masculino demonstra sua violência ao maltratar os personagens femininos, ocasionando a morte simbólica da mulher.
b) Divergindo de outros contos do livro, o personagem masculino desse conto está imune à timidez e aos conflitos interiores que tornam difícil sua aproximação das mulheres.
c) Como nos demais contos do livro, o personagem masculino enfrenta situações assustadoras diante daqueles que tripudiam sobre sua ingenuidade e desconhecimento da vida.
d) Divergindo de outros contos do livro, o personagem masculino é bem sucedido nas conquistas sexuais, sem sofrer, como em outros contos, a privação dos próprios desejos.
e) Como nos demais contos do livro, o personagem masculino vive às voltas com uma atmosfera erótica que se sobrepõe à idéia de um amor espiritualizado e eterno.
Resposta: E

TEXTO PARA QUESTÕES DE 4 A 8
Duas da tarde, Nelsinho viu a fulana descer do ônibus. Na esquina o tal Múcio, com quem trocou olhares.Entrou no cinema, o sujeito atrás.
Apagada a luz, sentaram-se na última fila, a conversar em voz baixa. De sua cadeira Nelsinho não os podia ouvir. Certo que não prestavam atenção ao filme. No meio da sessão, Múcio levantou-se e saiu.
O herói pediu licença, sentou-se ao lado, precisava falar com ela.
- Está louco? Sabe que sou casada.
Por ele não fazia diferença.
- Olhe que chamo o guarda.
- Aí, safadinha, pensa que não vi?
- Não tem nada com minha vida.
- Eu não. Teu marido pode ter.
- Se disser alguma coisa, conto que me perseguiu.
- Isso é velho. De você eu sei coisas do arco-da-velha.
Ofendida, Odete ergueu-se e, subindo a escada, foi para o balcão. Minutos depois, o rapaz surgiu ao lado.
- Como é? Posso falar com você? Sabia que teu marido tem amante? Sabia que eles se encontram à noite? Ainda não sabe, não é? Já vi os dois juntinhos em tantos lugares. Sei que ele pouco demora em casa. Trata você aos gritos quando lhe pede dinheiro. Foi seduzido por essa tipa. Me dói o coração ver você desprezada. É a única de quem gostei na vida. Tire a máscara dessa sem-vergonha. Também é casada. Mãe de filhos, quem sabe do teu marido... O homem dela viaja muito. Na sua ausência, ela se mostra o que é: uma sirigaita. Pode que aconteça uma tragédia quando o marido volte e alguém conte. É bobagem brigar com o teu. Sabe como são os homens. São fracos – não resistem a um palminho de cara bonita. Cuidado com essa aventureira, que se entrega a ele de olho fechado. Quer um conselho, Odete? Olhe, você dê o desprezo. Faça com ele o mesmo que lhe faz.
Sem responder, a bela foi para a platéia, seguida de Nelsinho. Ameaçou contar ao marido assim que chegasse. Ora, se falasse qualquer coisa, não a surpreendera com outro? Odete saiu furiosa, esqueceu até a sombrinha. Em casa, descreveu o incidente à sua velha mãe:
- Não se pode ir sozinha ao cinema.
Aconselhada pela velha a nada revelar ao marido. Muito nervoso, alguma desgraça. Odete insistia, olhos sonhadores, na loucura do rapaz. Intrigá-la com o marido não era vingança de um doente de paixão?
Àquela hora o nosso herói telefonava para o marido:
- Boa tarde, seu Artur. Como foi de viagem? Viajar é bom – quando a mulher fica em casa.
- Que história é essa? Quem está falando? Não estou entendendo.
- Aqui é um amigo. O nome não interessa. O caso é tão delicado. Não sei o que diga. Por onde comece. O marido viaja, a mulher fica de namoro. O senhor merece essa falseta? Vou contar o que sei... A sua mulher... Ela tem um amante!
- Canalha! Dou um tiro na boca. Você prova, seu patife?
Então, diga. Quem é que anda com minha mulher?
- Um tal doutor Múcio.
No súbito silêncio, e antes que o palavrão explodisse, Nelsinho desligou. Da folha branca alisou as rugas.
Grande sorriso até o fim da carta, em letra de forma, com a mão esquerda:
Dr. Múcio
Grande filho da mãe
Previno-te cuidado! Cuidado!
De hoje em diante vou te perseguir
Já não fiz asneira porque não quis manchar o meu nome
De hoje em diante farei meus pensamentos
Já considerei tua mulher e teus filhos
Mas como você é covarde só merece uma bala na cabeça
E te previno pense bem na tua mulher e teus filhos
E outros inocentes que andam sofrendo no mundo por tua causa
Covarde sem-vergonha descarado
Pense no futuro do teu lar porque tua vida é curta
Se continuar tirando a honra das mulheres casadas
Você também é casado e anda corneando os maridos
Não é só com a minha tem muitas outras
Não pense que eu sou um covarde como você
Tenho coragem para tirar teu miolo fora
Talvez você não alcance o Ano Novo
Farei uma limpeza em Curitiba
Eu só desejo a vingança
Derramarei o sangue deste desgraçado na rua
Cuide do teu pêlo
É o último aviso.


(TREVISAN, Dalton. Último aviso. In: O vampiro de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 30-33.)

4(UEL) A questão a seguir refere-se ao conto “Último Aviso”, de Dalton Trevisan (1925 - ), presente em O vampiro de Curitiba (1965).

Analise a frase a seguir, presente no primeiro parágrafo, e assinale a alternativa correta.

“Entrou no cinema, o sujeito atrás.”

a) Na frase, o verbo refere-se a Nelsinho; “o sujeito” é Múcio.
b) Na frase, o verbo refere-se a Múcio; “o sujeito” é Nelsinho.
c) Na frase, o verbo refere-se a Odete; “o sujeito” é Múcio.
d) Na frase, o verbo refere-se a Odete; “o sujeito” é Nelsinho.
e) Na frase, o verbo refere-se a Múcio; “o sujeito” é alguém anônimo.
Resposta: C

5. (UEL) A questão a seguir refere-se ao conto “Último Aviso”, de Dalton Trevisan (1925 - ), presente em O vampiro de Curitiba (1965).

Analise, a seguir, as frases presentes no conto e assinale a alternativa correta. 

“Ameaçou contar ao marido assim que chegasse. Ora, se falasse qualquer coisa, não a surpreendera com outro?”.

a) Nelsinho é o sujeito de “ameaçou”; o marido é Artur; Odete é o sujeito de “falasse”; Nelsinho é o sujeito de “surpreendera”; e o “outro” é Múcio.
b) Odete é o sujeito de “ameaçou”; o marido é Artur; Nelsinho é o sujeito de “falasse”; “a” refere-se a Odete; e o “outro” é Nelsinho.
c) Odete é o sujeito de “ameaçou”; o marido é Artur; Odete é o sujeito de “falasse”; “a” referese a Odete; e o “outro” é Múcio.
d) Nelsinho é o sujeito de “ameaçou”; o marido não é nomeado; Odete é o sujeito de “falasse”; “a” refere-se a Odete; e o “outro” é alguém anônimo.
e) Odete é o sujeito de “ameaçou”; o marido é anônimo; Nelsinho é o sujeito de “falasse”; o complemento omitido de “contar” é a perseguição; e o “outro” é Múcio.
 
6(UEL) A questão a seguir refere-se ao conto “Último Aviso”, de Dalton Trevisan (1925 - ), presente em O vampiro de Curitiba (1965).

Assinale a alternativa cuja personagem apresentada é a única a quem não se faz referência de uma traição a seu cônjuge.

a) Múcio.
b) Odete.
c) Artur.
d) A amante de Artur.
e) A esposa de Múcio.
Resposta: E

Dalton Jérson Trevisan


Em Busca de Curitiba Perdida
         Curitiba, que não tem pinheiros, esta Curitiba eu viajo. Curitiba, onde o céu azul não é azul, Curitiba que viajo. Não a Curitiba para inglês ver, Curitiba me viaja. Curitiba cedo chegam as carrocinhas com as polacas de lenço colorido na cabeça - galiii-nha-óóó-vos - não é a protofonia do Guarani? Um aluno de avental discursa para a estátua do Tiradentes.
            Viajo Curitiba dos conquistadores de coco e bengalinha na esquina da Escola Normal; do Jegue, que é o maior pidão e nada não ganha (a mãe aflita suplica pelo jornal: Não dê dinheiro ao Gigi); com as filas de ônibus, às seis da tarde, ao crepúsculo você e eu somos dois rufiões de François Villon. Curitiba, não a da Academia Paranaense de Letras, com seus trezentos milhões de imortais, mas a dos bailes no 14, que é a Sociedade Operária Internacional Beneficente O 14 De Janeiro; das meninas de subúrbio pálidas, pálidas que envelhecem de pé no balcão, mais gostariam de chupar bala Zequinha e bater palmas ao palhaço Chic-Chic; dos Chás de Engenharia, onde as donzelas aprendem de tudo, menos a tomar chá; das normalistas de gravatinha que nos verdes mares bravios são as naus Santa Maria, Pinta e Nina, viajo que me viaja. Curitiba das ruas de barro com mil e uma janeleiras e seus gatinhos brancos de fita encarnada no pescoço; da zona da Estação em que à noite um povo ergue a pedra do túmulo, bebe amor no prostíbulo e se envenena com dor-de-cotovelo; a Curitiba dos cafetões - com seu rei Candinho - e da sociedade secreta dos Tulipas Negras eu viajo. Não a do Museu Paranaense com o esqueleto do Pithecanthropus Erectus, mas do Templo das Musas, com os versos dourados de Pitágoras, desde o Sócrates II até os Sócrates III, IV e V; do expresso de Xangai que apita na estação, último trenzinho da Revolução de 30, Curitiba que me viaja.
            Dos bailes familiares de várzea, o mestre-sala interrompe a marchinha se você dança aconchegado; do pavilhão Carlos Gomes onde será HOJE! só HOJE! apresentado o maior drama de todos os tempos - A Ré Misteriosa; dos varredores na madrugada com longas vassouras de pó que nem os vira-latas da lua.
            Curitiba em passinho floreado de tango que gira nos braços do grande Ney Traple e das pensões familiares de estudantes, ah! que se incendeie o resto de Curitiba porque uma pensão é maior que a República de Platão, eu viajo.
Curitiba da briosa bandinha do Tiro Rio Branco que desfila aos domingos na Rua 15, de volta da Guerra do Paraguai, esta Curitiba ao som da valsinha Sobre as Ondas do Iapó, do maestro Mossurunga, eu viajo.
            Não viajo todas as Curitibas, a de Emiliano, onde o pinheiro é uma taça de luz; de Alberto de Oliveira do céu azulíssimo; a de Romário Martins em que o índio caraíba puro bate a matraca, barquilhas duas por um tostão; essa Curitiba não é a que viajo. Eu sou da outra, do relógio na Praça Osório que marca implacável seis horas em ponto; dos sinos da igreja dos Polacos, lá vem o crepúsculo nas asas de um morcego; do bebedouro na pracinha da Ordem, onde os cavalos de sonho dos piás vão beber água.
Viajo Curitiba das conferências positivistas, eles são onze em Curitiba há treze no mundo inteiro; do tocador de realejo que não roda a manivela desde que o macaquinho morreu; dos bravos soldados do fogo que passam chispando no carro vermelho atrás do incêndio que ninguém não viu, esta Curitiba e a do cachorro-quente com chope duplo no Buraco do Tatu eu viajo.
            Curitiba, aquela do Burro Brabo, um cidadão misterioso morreu nos braços da Rosicler, quem foi? quem não foi? foi o reizinho do Sião; da Ponte Preta da estação, a única ponte da cidade, sem rio por baixo, esta Curitiba viajo.
            Curitiba sem pinheiro ou céu azul pelo que vosmecê é - província, cárcere, lar - esta Curitiba, e não a outra para inglês ver, com amor eu viajo, viajo, viajo.

O "Vampiro" fala de sua cidade. Texto extraído do livro "
Mistérios de Curitiba", Editora Record, Rio de Janeiro, 1979, pág. 84.

Dalton Jérson Trevisan


Biografia
            Nascido em 14 de junho de 1925, o curitibano Dalton Jérson Trevisan sempre foi enigmático. Antes de chegar ao grande público, quando ainda era estudante de Direito, costumava lançar seus contos em modestíssimos folhetos. Em 1945 estreou-se com um livro de qualidade incomum, Sonata ao Luar, e, no ano seguinte, publicou Sete Anos de Pastor. Dalton renega os dois. Declara não possuir um exemplar sequer dos livros e "felizmente já esqueci aquela barbaridade".
            Entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim, "uma homenagem a todos os Joaquins do Brasil". A publicação tornou-se porta-voz de uma geração de escritores, críticos e poetas nacionais. Reunia ensaios assinados por Antonio Cândido, Mario de Andrade e Otto Maria Carpeaux e poemas até então inéditos, como O caso do vestido, de Carlos Drummond de Andrade. Além disso, trazia traduções originais de Joyce, Proust, Kafka, Sartre e Gide e era ilustrada por artistas como Poty, Di Cavalcanti e Heitor dos Prazeres.
            Já nessa época, Trevisan era avesso a fotografias e jamais dava entrevistas. Em 1959, lançou o livro Novelas Nada Exemplares - que reunia uma produção de duas décadas e recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro - e conquistou o grande público. Acresce informar que o escritor, arisco, águia, esquivo, não foi buscar o prêmio, enviando representante. Escreveu, entre outros, Cemitério de elefantes, também ganhador do Jabuti e do Prêmio Fernando Chinaglia, da União Brasileira dos Escritores, Noites de Amor em Granada e Morte na praça, que recebeu o Prêmio Luís Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil. Guerra conjugal, um de seus livros, foi transformado em filme em 1975. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas: espanhol, inglês, alemão, italiano, polonês e sueco.
            Em 1996, recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra, mas Trevisan continua recusando a fama. Cria uma atmosfera de suspense em torno de seu nome que o transforma num enigmático personagem. Não cede o número do telefone, assina apenas "D. Trevis" e não recebe visitas — nem mesmo de artistas consagrados. Enclausura-se em casa de tal forma que mereceu o apelido de O Vampiro de Curitiba, título de um de seus livros.
 
Livros Publicados:
- Abismo de Rosas 
- Ah, É?
- A Faca No Coração
- A Guerra Conjugal
- A Polaquinha
- Arara Bêbada
- A Trombeta do Anjo Vingador
- Capitu Sou Eu
- Cemitério de Elefantes
- 111 Ais
- Chorinho Brejeiro
- Contos Eróticos
- Crimes de Paixão
- Desastres do Amor
- Dinorá - Novos Mistérios
- 234 
- Em Busca de Curitiba Perdida
- Essas Malditas Mulheres
- Gente Em Conflito (com Antônio de Alcântara Machado)
- Lincha Tarado
- Meu Querido Assassino
- Morte na Praça
- Mistérios de Curitiba
- Noites de Amor em Granada
- Novelas nada Exemplares
- 99 Corruíras Nanicas
- O Grande Deflorador
- O Pássaro de Cinco Asas
- O Rei da Terra
- O Vampiro de Curitiba
- Pão e Sangue
- Pico na veia
- Primeiro Livro de Contos
- Quem tem medo de vampiro?
- 77Ais
- Vinte Contos Menores
- Virgem Louca, Loucos Beijos
- Vozes do Retrato - Quinze Histórias de Mentiras e Verdades
- Macho não ganha flor
- Desgracida
Livros renegados pelo autor
- Sonata ao Luar
- Sete Anos de Pastor
No Exterior
- Novela Nada Ejemplares – traduzido por Juan Garcia Gayo, Monte Avila - Caracas
- The Vampire of Curitiba and Others Stories – traduzido por Gregory Rabassa, Alfred A. Knopf, Nova Iorque
- De Koning Der Aarde (O Rei da Terra) – traduzido por August Willemsen, Amsterdam
- El Vampiro de Curitiba – traduzido por Haydée M.J.Barroso, Ed.Sudamericana - Buenos Aires
- De Vijfvleugelige Voguel (O Pássaro de Cinco Asas) – traduzido por A. Willemsen, Amsterdam
Antologias
- Contos em antologias alemãs (1967 e 1968), argentinas (1972 e 1978), americanas (1976 e 1977), polonesas (1976 e 1977), sueca (1963), venezuelana (1969), dinamarquesa (1972) e portuguesa (1972).
Filmes:
- A Guerra Conjugal - histórias e diálogos do autor, roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, 1975.
João Cabral de Melo Neto
Morte e Vida Severiana

Questões referente a João Cabral de Melo Neto


Questões
1.(CEFET) Leia as seguintes afirmações sobre Morte e Vida Severina:

I) O nascimento do filho do compadre José é antagônico em relação aos outros fatos apresentados na obra, já que esses são marcados pela morte.
II) Podemos dizer que o conteúdo é completamente pessimista, considerando-se que a jornada é marcada pela tragédia da seca, o que leva Severino à tentativa de suicídio.
III) Mais do que a seca, as desigualdades sociais do Nordeste são o tema da obra.

Assinale a alternativa correta sobre as afirmações:

a) Somente I e II estão corretas.
b) Somente I e III estão corretas.
c) Somente II e III estão corretas.
d) As três estão corretas.
e) As três estão incorretas.

2.(CEFET) Assinale a alternativa INCORRETA sobre “Morte e Vida Severina”:

a) Apesar das dificuldades que se anunciam para o filho do Seu José, a perspectiva do final do poema é positiva em relação à vida.
b) Existe no poema um grande contraste causado pelo nascimento do filho do Seu José em relação à figura da morte, presente em toda a obra.
c) O adjetivo Severina, do título, tanto se refere ao nome do personagem central como às condições severas em que ele, como tantos outros, vive.
d) A indicação auto de natal não se refere somente ao sentido de religiosidade, mas também à aceitação do poder de renovação que existe na própria natureza.
e) Como em muitas outras obras de tendência regionalista, o tema central do poema é a seca nordestina e a miséria por ela criada.

3. (FUVEST-SP)

Decerto a gente daqui
jamais envelhece aos trinta
nem sabe da morte em vida,
vida em morte, severina;
 (João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina)

Neste excerto, a personagem do “retirante” exprime uma concepção da “morte e vida severina”, idéia central da obra, que aparece em seu próprio título. Tal como foi expressa no excerto, essa concepção só NÃO encontra correspondência em:

a) “morre gente que nem vivia”.
b) “meu próprio enterro eu seguia”.
c) “o enterro espera na porta:
o morto ainda está com vida”.

d) “vêm é seguindo seu próprio enterro”.
e) “essa foi morte morrida
ou foi matada?”
.

4.(FEI-SP) Leia o texto com atenção e responda à questão.

— O meu nome é Severino
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muito na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

(João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina)

É possível identificar nesse excerto características:

a) regionalistas, uma vez que há elementos do sertão brasileiro.
b) vanguardistas, pois o tratamento dispensado à linguagem é absolutamente original.
c) existencialistas, pois há a preocupação em revelar a sensação de vazio do homem do sertão.
d) naturalistas, porque identifica-se em Severino as características típicas do herói do século XIX.
e) surrealistas, já que existe uma apelação ao onírico e ao fantástico.

5.(FUVEST) 

Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar,
e cultivá-los é fácil:
simples questão de plantar;
não se precisa de limpa,
de adubar nem de regar;
as estiagens e as pragas
fazem-nos mais prosperar;
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
pela colheita: recebe-se
na hora mesma de semear.
 
(João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina)

Nos versos acima, a personagem da “rezadora” fala das vantagens de sua profissão e de outras semelhantes. A seqüência de imagens neles presente tem como pressuposto imediato a idéia de: 

a) sepultamento dos mortos.
b) dificuldade de plantio na seca.
c) escassez de mão-de-obra no sertão.
d) necessidade de melhores contratos de trabalho.
e) técnicas agrícolas adequadas ao sertão.