(...) Poema
intencionalmente moral é o mesmo que estátua polícroma, ou pintura
em relevo. Apenas uma coisa possível, nada mais; há também quem
faça flores, com asas de barata e pernas.
A verdadeira arte, a
arte natural, não conhece moralidade. Existe para o indivíduo sem
atender à existência de outro indivíduo. Pode ser obscena na
opinião da moralidade: Leda; pode ser cruel; Roma em chamas, que
espetáculo!
Basta que seja
artística. (...)
O meu bom amigo,
exagerado em mostrar-se melhor, sempre receoso de importunar-me com
uma manifestação mais viva, inventava cada dia nova surpresa e
agrado. Chegava ao excesso das flores. A princípio, pétalas de
magnólia seca com uma data e uma assinatura, que eu encontrava entre
as folhas de compêndio. As pétalas começaram a aparecer mais
frescas e mais vezes; vieram as flores completas. Um dia, abrindo
pela manhã a estante numerada do salão do estudo, achei a
imprudência de um ramalhete. Santa Rosália da minha parte nunca
tivera um assim. Que devia fazer uma namorada? Acariciei as flores,
muito agradecido, e escondi-as antes que vissem. (...)
Não denunciar nunca
é preceito sagrado de lealdade no colégio. os contentores
recusaram-se a explicações. Bento Alves negou o braço a exame e
curativo; Malheiro, em panos de sal, fingindo-se muito prostrado,
oferecia o mais impenetrável silêncio às indagações de Aristarco
e protestava esborrachar as ventas a quem caísse na asneira de
insinuar o bedelho no que não era de sua conta.
Referencia do texto:
http://www.graudez.com.br/literatura/realismonaturalismo.html
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